A população de rua na Cidade de São Paulo

Retirada do Freepik

Pesquisa social participativa ‘Construção de políticas públicas a partir de um novo olhar sobre a vida nas ruas na cidade de São Paulo¹

Emilia Estivalet Broide
Jorge Broide
1. Introdução
Em busca da via que pulsa

A pesquisa social participativa Construção de políticas públicas a partir de um novo olhar sobre a vida nas ruas na cidade de São Paulo foi uma iniciativa da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) da Prefeitura Municipal de São Paulo, realizada em 2015, com trabalhos coordenados pela SUR Clínica e intervenção social. A pesquisa serviu para subsidiar o Comitê Pop Rua na construção do Plano Municipal de Políticas para a População em Situação de Rua da cidade de São Paulo. 

Para a realização da pesquisa, foram selecionadas 10 pessoas que estavam ou estiveram em situação de rua. Eles foram capacitados como pesquisadores sociais, com o objetivo de realizar o levantamento das situações de vida nas ruas da cidade de São Paulo. Partiu-se da compreensão de que os pesquisadores sociais, por viverem a situação de rua, poderiam captar de forma mais profunda a “pulsação” da rua e, ainda, exercer um papel investigativo, crítico e de elaboração sobre a realidade vivida por eles e pelos milhares de outros que fazem da rua seu lugar de vida, moradia e/ou trabalho. 

Partindo, então, do pressuposto de que a vida “pulsa” no corpo, na cidade e nas ruas, a questão que se impôs à pesquisa foi a de como manter o rigor e, ao mesmo tempo, torná-la capaz de captar essa “pulsação”, a fim de contribuir na implementação das políticas públicas da área. Para construir os dispositivos necessários para esse fim, a SUR Clínica e intervenção social seguiu a experiência desenvolvida em outros trabalhos e intervenções desenvolvidos no campo das situações sociais críticas. Nesse campo, a psicanálise capta o sujeito que surge desejante nas entrelinhas das palavras, na berlinda social, no mal-estar da cultura e desacomoda o pensamento assentado no ser do sujeito, ao dar relevo às manifestações inconscientes presentes nas falas dos entrevistados, apostando no surgimento de um dizer para além dos ditos. 

“Partindo, então, do pressuposto de que a vida “pulsa” no corpo, na cidade e nas ruas, a questão que se impôs à pesquisa foi a de como manter o rigor e, ao mesmo tempo, torná-la capaz de captar essa “pulsação”, a fim de contribuir na implementação das políticas públicas da área.”

Nesse percurso de trabalho, na formação dos pesquisadores sociais e na construção da pesquisa, os fundamentos psicanalíticos e a análise crítica da realidade social contribuíram para a compreensão dos modos de vida das pessoas em situação de rua. Além disso, também se buscou captar as representações das entidades e dos trabalhadores sociais a respeito da população por eles assistida. 

1.1 Histórico

Para a realização da pesquisa, a Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania escolheu a SUR: Psicanálise, clínica e intervenção social, uma empresa de planejamento e execução de metodologias de intervenção social que tem como sócios Jorge Broide  e Emilia Estivalet Broide, ambos psicanalistas. 

Além do desenvolvimento de uma metodologia clínica psicanalítica de atendimento direto a essas populações e instituições, a SUR desenvolveu também uma metodologia de escuta das relações conscientes e inconscientes da e na cidade que denominamos de “escuta territorial”. Essa metodologia tem sido utilizada no atendimento nas ruas, em pesquisas qualitativas e para o entendimento e formulação de projetos e políticas públicas no âmbito das cidades.

Em relação à população em situação de rua, a SUR acumula uma experiência de 46 anos no atendimento direto a crianças, adolescentes e adultos nas ruas e instituições. Realizou consultoria para a formulação e implementação do Plano Municipal para a População em Situação de Rua na cidade de Porto Alegre em 2011.

Para desenvolver o trabalho solicitado pela SMDHC, a SUR realizou uma reunião com o Comitê Pop Rua² para apresentação da pesquisa. Nessa primeira reunião, foi feita a Repactuação do Plano de Trabalho e houve a incorporação das mudanças metodológicas requisitadas pelos membros do comitê.

Aqui vale destacar que a proposta da pesquisa feita pela SUR previa que a eleição dos pesquisadores sociais fosse por representação, de forma que cada entidade e/ou movimento com assento e voz no Comitê Pop Rua indicasse um representante. Então veio a surpresa: diversos integrantes do Comitê Pop Rua questionaram tal critério. Então, em atenção ao questionamento, criou-se uma “inovação metodológica”. Foi proposto pela SUR que, para a definição dos pesquisadores, faríamos dez encontros abertos (um por semana), de forma que quem quisesse participar poderia fazê-lo; ao longo dos dez encontros, seriam trabalhados o mapeamento dos locais onde a pesquisa deveria ser realizada, os critérios para ser pesquisador social e as dúvidas em relação à pesquisa. Quem quisesse poderia participar e, ao final dos encontros, seriam eleitos pelos participantes os dez pesquisadores. Para tanto, esse grupo de trabalho inicial criou e distribuiu um material de divulgação da pesquisa — pequenos cartazes — convidando todos os interessados a serem pesquisadores sociais. O material foi distribuído nos mais diferentes locais frequentados pela população em situação de rua. Foi criada também uma página na rede social Facebook, que, além de convidar os possíveis pesquisadores sociais, teve a função de divulgar a pesquisa aos interessados.

A nova metodologia de eleição foi bastante interessante e impactou de forma decisiva na segunda fase da pesquisa. Além de uma prática democrática, ajudou a criar uma afinidade com o trabalho, uma vez que aqueles que se identificaram com o projeto de pesquisa tinham participação constante nos encontros. Foi um processo que legitimou as escolhas dos pesquisadores, feitas pelos próprios participantes interessados na pesquisa, e possibilitou o mapeamento dos territórios prioritários e a formação dos futuros pesquisadores.

Posteriormente foram realizadas apresentações dos relatórios parciais da pesquisa ao comitê com os produtos previstos no contrato entre a SMDHC e a SUR. Aquele era um momento estratégico do processo, pois ali estavam presentes a coordenação da população em situação de rua, representantes de outras secretarias e de entidades da sociedade civil, além das pessoas em situação de rua interessadas em participar daquele fórum de debate.

Concluída, a pesquisa foi entregue ao Comitê Pop Rua e, ao longo de 2016, ajudou a subsidiar a construção do Plano Municipal de Políticas para a População em Situação de Rua da cidade de São Paulo, apresentado em 24 de dezembro daquele ano. 

1.2 Pressupostos da pesquisa
1.2.1 Suporte psíquico

Sabia-se que, para realizar a pesquisa com os pesquisadores sociais — que viviam a situação de rua em seu cotidiano —, seria necessário garantir um suporte psíquico a eles, além de uma profunda preparação técnica. O suporte psíquico tinha importância, pois possibilitava enfrentar as dificuldades do trabalho e, principalmente, lidar com a mobilização das suas próprias histórias de vida na execução da pesquisa. 

Nesse sentido, criar um espaço grupal semanal no qual eles podiam falar de si, de suas histórias e memórias, foi fundamental, pois mantinha a união necessária dos pesquisadores frente à reconexão com as perdas já vividas e ligadas à forte sensação de desamparo que ressurgiu, muitas vezes, durante a pesquisa. Ao mesmo tempo, o espaço grupal os reconectava com momentos de investimento e potência que possibilitava levá-los a outro lugar social, a partir da pesquisa — o lugar de pesquisador social. 

A aposta na garantia de um suporte psíquico aos pesquisadores visava permitir que pudessem ouvir o outro sem permanecer “colados” a uma queixa estéril e infrutífera, ou, por outro lado, a denúncia que impediria a realização da pesquisa. Ao diferenciar a denúncia da pesquisa, abria-se um espaço que chamamos de “espaço vazio” para que o entrevistado pudesse advir no lugar de sujeito da sua fala.  O laço social produz e reproduz desigualdades, logo, as situações que se apresentaram ao longo da pesquisa, muitas vezes, eram passiveis de denúncia, então os caminhos para os encaminhamentos das mesmas tornaram-se também parte da pesquisa.

Aqueles que escutam o sofrimento do outro e aqueles que falam de seu sofrimento — ouvinte e locutor — encontram-se fortemente ligados. Os pesquisadores, ao entrevistar pessoas que viviam nas ruas da cidade, ou ao observarem, como pesquisadores, cenas que podiam ser material da pesquisa, eram invadidos por um turbilhão de palavras, ideias e sentimentos. Os espaços de elaboração grupal que ocorreram durante a pesquisa permitiram construir possibilidades simbólicas e discursivas frente a essa mobilização subjetiva.

Contudo, muitas vezes, também surgiam situações de desconfiança, agressividade e de ressentimento na pesquisa, como expressões do drama humano vivido nas ruas. Como lidar com questões que ensurdecem os ouvidos e limitam intervenções frente ao mal-estar que produzem, gerando incomunicabilidades? O risco de “bater a nave”, expressão que os pesquisadores usavam para se referir aos momentos nos quais o sujeito desistia de tudo, preferindo abandonar os compromissos e laços e podendo recair no uso abusivo de drogas, era trabalhado tanto na análise dos dados quanto na vida deles próprios. 

1.2.2 Espírito transdisciplinar

“Um pressuposto da pesquisa foi, desde o início, buscar romper com os limites da divisão de conhecimentos e das especialidades. Para dar conta da complexidade e da diversidade do mosaico que compõe a população de rua, buscamos somar saberes e habilidades com uma equipe que reunia diferentes formações, incluindo psicólogos, jornalistas e fotógrafos.

Um pressuposto da pesquisa foi, desde o início, buscar romper com os limites da divisão de conhecimentos e das especialidades. Para dar conta da complexidade e da diversidade do mosaico que compõe a população de rua, buscamos somar saberes e habilidades com uma equipe que reunia diferentes formações, incluindo psicólogos, jornalistas e fotógrafos. Uma diversidade que se refletiu nas diferentes formas de trabalho, que, ao lado da metodologia das pesquisas qualitativas e das técnicas da psicanálise, utilizou também recursos das artes, especialmente da literatura, tanto por meio dos textos dos cronistas como da utilização de textos literários, no âmbito das oficinas textuais do grupo Ponte, com o objetivo de sensibilizar os pesquisadores sociais, despertar o seu olhar e aprimorar sua capacidade de contar histórias (Plínio Marcos e literatura de cordel, por sinal, despertaram forte reação entre os pesquisadores).

1.2.3 Processo de saturação

Os dados da pesquisa foram sendo processados ao longo da pesquisa através da leitura e análise das crônicas, dos relatos das entrevistas individuais e grupais: nas ruas, nas instituições visitadas pelos pesquisadores sociais e pela equipe da SUR. Essa análise foi realizada através do método psicanalítico. Os emergentes da pesquisa apontavam significantes. Na medida em que esses significantes se repetiam, ou se apresentavam de distintas formas, mas com o mesmo sentido, chegava-se ao que chamamos de “processo de saturação”. A partir desse ponto, foi possível construir categorias de análise, que eram checadas novamente em campo. Inicialmente enquanto hipóteses, que podiam ou não se manter, até que apresentassem densidade e relevância.

Metodologia
Os Caminhos indiretos

A pesquisa buscou seguir o caminho trilhado por Freud, que, com rigor, aproximou a descoberta do inconsciente e da estruturação do aparelho psíquico à análise de textos literários, das obras de arte e dos fatos históricos. Em sua pesquisa, promoveu a extensão da clínica stricto sensu à leitura dos fenômenos sociais e a uma importante articulação dos conhecimentos e concepções da psicanálise a outras áreas do saber. 

O trabalho constituiu-se fundamentado nos grupos como dispositivo principal de realização da pesquisa e de análise dos dados. O material escrito foi constituído pelos relatos dos pesquisadores e pelos textos dos cronistas.

2.1 Diferentes dispositivos criados para a realização da pesquisa

Os grupos operativos

Para Pichon-Rivière, os grupos são centrados em uma tarefa e é esta que mobiliza os conteúdos conscientes e inconscientes de seus membros. A tarefa geral de todos os grupos era a pesquisa da vida da população em situação de rua na cidade de São Paulo. Além da tarefa geral, cada espaço grupal possuía uma tarefa específica.

2.2.1 O grupo terapêutico

A tarefa desse grupo era possibilitar aos pesquisadores sociais falar livremente do que estava sendo mobilizado neles pelo trabalho de pesquisa. Os dois psicanalistas que coordenavam o grupo interpretavam livremente o material que surgia expresso no relato de situações vividas na pesquisa, nos conflitos do grupo, nas histórias de vida que surgiam a partir do trabalho, da experiência que tiveram e ainda tinham nas ruas, nos sonhos, enfim, um trabalho clínico centrado na tarefa da equipe: ser pesquisador social e o que isso mobilizava e significava na vida da equipe e de cada um. 

2.2.2 O grupo da pesquisa de campo

Aqui a tarefa específica era a de formular as perguntas, que eram sempre abertas, debater as situações encontradas; fazer dramatizações das cenas temidas; analisar os textos e questionários que os pesquisadores produziam; organizar as idas a campo; e muitas vezes acompanhá-los quando o grupo achava necessário. 

2.2.3 O grupo Ponte

Coordenada por membros da Ponte, jornalistas especializados na cobertura de direitos humanos, segurança pública e justiça, funcionava em forma de oficina, na qual eram realizadas leituras de literatura de clássicos, de cordel, peças de teatro, etc. A leitura e a escrita de textos tinham como função específica a sensibilização, a ampliação do repertório dos pesquisadores e a melhoria da escrita dos relatos, tanto no que se refere ao que era escutado nas entrevistas quanto ao desenvolvimento do estilo pessoal de cada um em seus relatos. O diálogo a partir do olhar dos jornalistas foi propiciado em diversos momentos: como na roda de conversa em que entrevistaram um dos coordenadores do SP Invisível³, projeto jornalístico que retrata histórias de vida de moradores de rua. De diversas formas, buscou-se criar novos dispositivos para trabalhar o olhar, a descrição e o relato.

2.2.4 Pré -grupo 

Sempre antes de cada grupo feito com os pesquisadores sociais, era realizado um pré-grupo com os coordenadores do grupo e os cronistas. Neles buscava-se afinar o trabalho, retomando os pontos de urgência levantados no grupo anterior e/ou debatidos com toda a equipe SUR na reunião semanal. Como exemplo de pontos de urgência trabalhados, podemos citar as possíveis recaídas no uso abusivo de drogas e a questão da instabilidade de alguns pesquisadores com relação à moradia (alguns estavam residindo nas ruas ou em ocupações). 

2.2.5 Pós-grupo 

Sempre após cada grupo feito com os pesquisadores sociais era realizado um pós-grupo com os coordenadores do grupo e os cronistas. No pós-grupo, buscava-se elaborar o trabalho grupal ocorrido. Primeiramente falavam os cronistas, a fim de que pudessem trazer o material bruto de suas crônicas, suas associações e assinalamentos quanto à dinâmica grupal. Somente após a fala dos cronistas os coordenadores falavam.

2.2.6 Reuniões da equipe técnica 

Ocorriam semanalmente. Foi o espaço de estruturação e organização da pesquisa, do trabalho da semana, da definição dos caminhos a serem trilhados diante do que o campo apresentava de novo e de surpreendente. Além do trabalho com os pesquisadores sociais, um trabalho dessa complexidade envolve também aspectos institucionais que implicam as relações da equipe com a SMDHC, com outras ONGs envolvidas no trabalho de atendimento às pessoas em situação de rua, etc. 

Assim, as reuniões da equipe técnica abordavam hipóteses a partir das informações do material pesquisado, que eram entendidos enquanto significantes que emergiam semanalmente do campo, através dos grupos da pesquisa e de outras relações institucionais. Tratavam também do cuidado e da organização do trabalho com a equipe de pesquisadores e faziam divisão de tarefas. O grupo trabalhava em uma práxis constante, devolvendo ao campo as hipóteses levantadas ao longo da semana e ao longo de todo o processo.  Esse foi o espaço onde foram sendo organizadas e construídas as categorias de análise e as conclusões da pesquisa a partir dos dados do campo.

2.3 Diferentes dispositivos para a análise processual do material da pesquisa
2.3.1 As crônicas

A crônica é o primeiro material bruto advindo dos grupos. O cronista não fala no grupo e faz um relato escrito, onde registra suas impressões, reflexões, sensações acerca dos acontecimentos ocorridos nos grupos. Dizemos que a crônica expressa a transferência do cronista com o acontecer grupal, ela capta o material mais profundo do grupo, que escapa muitas vezes do olhar do coordenador. A crônica é como se fosse um diamante bruto que vai sendo lapidado em sucessivas fases: na reunião pós-grupo, na reunião semanal de equipe, nos pré-grupos, sendo também utilizada nos relatórios parciais e no relatório final. 

O cronista, muitas vezes, por estar em uma posição silenciosa, pode perceber as relações transferenciais que se estabelecem entre os coordenadores e o grupo ou entre os coordenadores e um integrante especificamente. 

Ao longo do trabalho, os cronistas também indicaram aos coordenadores a diminuição da curiosidade dos pesquisadores sobre a anotação que eles (cronistas) faziam durante os grupos. Isso foi interessante, pois a anotação dos cronistas deixou de ter um caráter de perseguição para assumir o de ajuda. Inicialmente frases como “não anota isso aí”, que eram frequentes, foram sendo substituídas por “isso é importante que vocês registrem”. Esse movimento, que foi acontecendo no grupo, era bem captado pelo cronista e permitia a reflexão sobre o movimento grupal.

Como exemplo, o trecho de uma crônica realizada em 19/2/2015, ainda no início dos trabalhos:


“Mesmo quando a boca cala o corpo quer falar”

A reunião se inicia com uma apresentação de cada um dos participantes. Nesse primeiro momento, é explicado o papel das cronistas nos encontros e a importância de suas crônicas. É dito que os cronistas não falam. Nesse momento, me vem à cabeça o trecho de uma música da banda 5 a Seco, da qual gosto bastante: “Mesmo quando a boca cala o corpo quer falar”. Penso que a música me veio à mente, pois fiquei refletindo o quão difícil – e ao mesmo tempo interessante – é não poder falar, mas apenas registrar e escrever o que sinto e penso de tudo o que vejo e escuto, mas também daquilo que não consigo enxergar, tampouco ouvir. E mais, na árdua tarefa da escuta da escuta, em espiral, de um escutar os outros e escutar-se por meio das próprias palavras e, então, ao reler o que escreveu, re-escutar os outros e a si mesma, e assim sucessivamente. Ora, calar a boca é mais fácil, mas como calar o corpo que responde à boca calada e quer falar? Fiquei atenta para que meu corpo pudesse ter falas tímidas, baixas, roucas… No começo da reunião, atentou-se para as duas tarefas principais dos GTs: como montar o grupo de pesquisadores sociais e qual será o mapeamento”. Messias coloca: “A dinâmica do desconhecido é imprevisível”. Durante a reunião, os moradores de rua vão revelando que se sentem capacitados para trabalhar em qualquer região de São Paulo. Vou tendo a sensação de que há algo que os une de modo visceral.

A frase de Manoel Messias — que se comportava como um tipo peculiar de 11º pesquisador social do grupo, já que, embora registrado (a pedido dele) apenas como suplente, fazia questão de comparecer a todos os encontros — ecoou ao longo de toda a pesquisa e foi sendo abordada em cada um dos espaços grupais. Foi uma frase guia que nos permitia elaborar como equipe situações e vivências surpreendentes e desconhecidas que foram surgindo durante a pesquisa. É um exemplo que ilustra como algo presente na crônica foi se fazendo presente ao longo de todo o trabalho.

2.3.2 Reuniões periódicas com o secretário e sua equipe 

Nessas reuniões eram apresentados o desenvolvimento da pesquisa e os resultados parciais, de forma que pudessem servir de subsídios à gestão na construção da política pública com a população em situação de rua. Como exemplo, podemos citar a referência que fizemos em um dos encontros sobre a necessidade de articular as políticas públicas de direitos humanos com as doações feitas na rua por diferentes grupos religiosos e espontâneos que, em nome da caridade, interferem na dinâmica de sobrevivência nas ruas, constituindo as bases de um assistencialismo que só serve para manter a população na mesma situação. Na ocasião, foi sugerido que se criasse um fórum de debate permanente entre esses diversos grupos e as políticas assistenciais e de direitos humanos que se destinam à população em situação de rua4

2.3.3 Apresentação inicial da pesquisa e dos resultados parciais ao Comitê Pop Rua 

Essas reuniões, já descritas no Histórico (1.1), foram importantes para garantir o caráter participativo e democrático da pesquisa e garantir que o Comitê Pop Rua recebesse subsídios da pesquisa e dela participasse integralmente bem antes da entrega do relatório final.

2.4 Coleta de dados

Os dados da pesquisa foram coletados de diversas formas: entrevistas de campo feitas pelos pesquisadores sociais; saídas noturnas dos pesquisadores sociais com a equipe SUR Clínica e intervenção social, depoimentos dos pesquisadores nos diferentes dispositivos grupais instituídos durante todo processo da pesquisa; relatos dos trabalhadores da assistência social nas rodas de conversa realizadas durante a pesquisa. 

Foram analisados 252 registros escritos de entrevistas feitas pelos pesquisadores sociais; 200 registros das descrições orais feitas por eles e registradas pelos cronistas e cinco registros escritos realizados pela equipe da SUR. Detalhando:

a) Registro escrito feito pelos próprios pesquisadores sociais durante as entrevistas.

Com esse material pode-se manter o lugar de fala e de escrita dos mesmos, de forma a respeitar o protagonismo dos pesquisadores sociais nessa investigação. Em relação aos registros escritos realizados pelos pesquisadores sociais, foram feitas: 44 observações, 39 entrevistas com técnicos, 8 entrevistas com população civil e 162 entrevistas com população em situação de rua.

Importante destacar que a opção de usar o registro feito pelos próprios pesquisadores sociais implicou um grande trabalho de capacitação, tanto para a realização como para o registro das entrevistas, uma vez que essa atividade era completamente nova para eles. Boa parte do processo de capacitação para o relato escrito das entrevistas foi realizada pelo grupo Ponte, por meio de dinâmicas de produção textual. Todo material derivado dessas entrevistas foi posteriormente transcrito para a discussão e análise dos dados obtidos.

b) Relatos orais feitos pelos pesquisadores sociais nos grupos.

Os grupos de Pesquisa de Campo, realizados às terças feiras, serviam, num primeiro momento, para construir com os pesquisadores o roteiro da entrevista. Posteriormente, tornou-se o espaço lugar no qual os pesquisadores relatavam as entrevistas, entregavam o material escrito e debatiam a ida a campo. Nesses grupos, foi possível explorar a riqueza dessas entrevistas de maneira detalhada e registrar os relatos orais por meio do trabalho dos cronistas. Além das crônicas dos grupos de Pesquisa de Campo, as crônicas dos demais grupos eram também debatidas semanalmente, todas as segundas-feiras, na reunião de equipe da SUR.

c) Visita aos equipamentos em diferentes horários e territórios.

Os pesquisadores, quase sempre em duplas, visitaram 38 equipamentos frequentados pela população em situação de rua. Algumas das visitas tiveram o acompanhamento de parte da equipe da SUR. Em muitos casos, a entrada do pesquisador social no local (abrigo, albergue, etc) não foi permitida.

2.5 Estratégia comunicacional

a) Cada fase da pesquisa foi apresentada ao comitê Pop Rua, de forma que os dados parciais foram debatidos durante o caminho percorrido.

b) Antes mesmo da eleição dos pesquisadores sociais, no grupo de trabalho que se formou após a primeira reunião entre a SMDHC, SUR e o Comitê Pop Rua, confeccionamos cartazes e flyers para divulgação da pesquisa.  

c) Criação de uma página no Facebook: Pesquisa Pop Rua SP.

d) Divulgação na mídia:

e) Rodas de conversa e encontros com as instituições que trabalham na área e com a comunidade científica.

2.6 Instrumento de pesquisa

A pesquisa participativa se caracteriza por ser qualitativa. Por isso, as entrevistas realizadas, mesmo tendo um roteiro prévio, foram semiabertas e abertas (Duarte, 2015). Os pesquisadores formulavam as perguntas de acordo com o andamento da entrevista. O roteiro apresentado a seguir serviu para nortear as entrevistas; foi um disparador da conversa com o entrevistado, até que os pesquisadores pudessem formular as questões da pesquisa a partir de seu estilo e da escuta no momento. Esse roteiro foi construído pelos 10 pesquisadores sociais nos grupos de Pesquisa de Campo.

Roteiro de perguntas norteadoras para entrevistas dos pesquisadores sociais
1- Dados gerais: nome, idade, origem, tempo de rua, escolaridade
2- O quê acha da rua?
3- Qual motivo o trouxe à situação de rua?
4- Você vive de quê na rua? Como sobrevive?
5- Já utilizou algum serviço/equipamento para a população de rua? Quais sugestões e críticas você faria?
6- Quais são os seus lugares de referência?
7- Em que você acredita?
8- Como você faz para se divertir?
9- O que te atrai na vida na rua?
10- Quais as regras da rua? Como você lida com elas?
11- Qual o seu relacionamento com sua família?
12- Como você tem acesso à informação e como se comunica?
13- Como era sua vida antes da rua?
14- Quais são seus sonhos daqui para frente?
15- Você gostaria de falar mais alguma coisa?

É importante salientar que a metodologia de pesquisa qualitativa prioriza a profundidade das entrevistas realizadas, não apenas o número de entrevistados. Dessa forma, optou-se pela técnica de coleta de dados na forma de entrevistas em profundidade, em detrimento de questionários e outras técnicas de coleta de dados com perguntas fechadas e pré-estabelecidas pela equipe. As entrevistas priorizavam o saber dos próprios pesquisadores sociais, que, além de precisarem da sensibilidade de saber abordar cada entrevistado em sua particularidade, tinham a liberdade para criar perguntas que julgavam relevantes para além do roteiro previsto. Tudo com o intuito de entender profundamente a realidade do entrevistado e descobrir dados relevantes de como realmente funciona a vida nas ruas. 

Em diversos casos, os pesquisadores sociais ouviram dos entrevistados toda a sua história de vida, além de segredos sobre seu cotidiano, como o papel do tráfico de drogas, as regras da rua, a vida dentro dos equipamentos quando as luzes se apagam, o roubo, a corrupção, a violência, agressões, estupros, uso de drogas, assassinatos, a vida na prisão, o descaso das famílias de origem, o descaso do Estado, etc. Em muitas situações, os pesquisadores precisaram lidar com o choro dos entrevistados, a embriaguez, a agressividade e os pedidos de ajuda. 

Todas essas situações vividas compunham os registros orais que eram constantemente analisados no grupo da Pesquisa de Campo. A cada semana, o grupo analisava três entrevistas durante três horas. Os pesquisadores, ao relatarem as entrevistas, também traziam no relato as situações vividas durante a realização de cada uma delas, com as tensões e emoções estabelecidas na relação com o entrevistado durante a abordagem feita. 

Cada encontro com o entrevistado demandava do entrevistador situar-se em relação à sua tarefa, que era a pesquisa. Deveria escutar o outro, sem que suas próprias opiniões prevalecessem. Também se depararam com outras questões. Como manejar a situação do entrevistado recusar a pesquisa? E se eles não entenderem a proposta? Tais elementos compuseram, juntamente com a transcrição das entrevistas, um rico material que, posteriormente, também foi submetido à análise, gerando categorias que reuniram os temas centrais dos discursos dos entrevistados. 

Conclusões – O mundo da Rua, com outra temperatura e pressão

 […] um índio é outra coisa que um pobre. Ele não quer ser transformado em alguém ‘igual a nós’. O que ele deseja é poder permanecer diferente de nós – justamente diferente de nós. Ele quer que o reconheçamos e respeitemos sua distância. Mais uma vez, esta é a escolha crucial da esquerda em nosso continente e no presente momento histórico mundial: pensar os ‘índios’ – isto é, todas as minorias – do planeta como ‘pobres’ ou pensar os ‘pobres como ‘índios’ e agir politicamente nessa direção.

O índio em devir, de Eduardo Viveiros de Castro.

A pesquisa envolveu a todos. Promoveu a descoberta de situações de vida que geraram elementos de análise e que contribuíram para fazer pensar e indicar soluções. Permitiu o confronto de dados e desacomodou posições pré-estabelecidas.

Confirmou, aprofundou e esclareceu algumas questões já sabidas. Uma delas é a de que a vida nas ruas funciona de acordo com diferentes leis e concepções de tempo e espaço. Esse aspecto é estruturante, pois só tendo claro essa diferença é que é possível construir políticas públicas dignas. 

A citação de Viveiros de Castro nos convoca a pensar que não temos que transformar a pessoa que vive nas ruas, abrigos e albergues em algo diferente daquilo que ela é, mas trabalhar no sentido de resgatar o que ela perdeu, ou o que nela se perdeu. Compreender as diferentes lógicas que se instauraram na vida das pessoas, a partir de rupturas tão radicais, é a direção de um trabalho no sentido da eliminação da desigualdade, e não na subserviência a uma lógica assistencialista. Tal é o desafio que se apresenta: como construir uma política pública, que leve em consideração o sujeito, ou os grupos sociais, em suas peculiaridades e lógicas singulares? A imagem que usamos é que, para conhecer a “pulsação” da vida na rua, é necessário entrar em um elevador e descer a outro mundo que funciona com diferente temperatura e pressão.

Compreender as diferentes lógicas que se instauraram na vida das pessoas, a partir de rupturas tão radicais, é a direção de um trabalho no sentido da eliminação da desigualdade, e não na subserviência a uma lógica assistencialista.

Nesse outro mundo, encontramos as pessoas que vivem nas ruas, nas calçadas, nos abrigos e albergues da nossa cidade em uma situação muito semelhante a dos índios, a dos imigrantes e refugiados, que perderam tudo em seu país ou território de origem. É muito importante que aqueles que operam nesse campo – do gestor ao trabalhador operacional – possam escutar essa “outra língua”, construindo porosidades que eliminem o distanciamento entre esses mundos e criem uma comunicação universal na diferença. 

As causas para a vinda de um sujeito à situação de rua são inúmeras. A maior parte delas, porém, inclui rupturas de diferentes ordens. Segundo Broide (1993), a vida nas ruas é o resultado de sucessivas rupturas que ocorrem no âmbito pessoal, familiar, institucional e comunitário. Podemos pensar que o ser humano, desde que nasce, vai estabelecendo diferentes relações cada vez mais abrangentes que lhe permitem desenvolvimento e autonomia. Esses laços vão sendo estabelecidos com a mãe ou cuidadora, com a família, e com as instituições como a escola e a comunidade que lhe dão as relações afetivas, culturais etc. Em cada um desses diferentes âmbitos o sujeito tem necessidades, constitui desejos e relações que lhe permitem a construção de sua vida.

No caso da vida nas ruas, o que vemos é uma quebra sucessiva desses diferentes laços, até o ponto em que há uma ruptura decisiva que leva o sujeito às ruas. Podemos dizer que há uma “queda”. Agora, todas as necessidades e desejos que antes eram realizados e construídos nos vários âmbitos aqui citados devem ser realizados todos ao mesmo tempo e no mesmo lugar, que é a rua. É ali, portanto, que se refazem os laços afetivos, a sobrevivência, a aprendizagem, a vida comunitária etc. Ou seja, o sujeito é forçado a viver uma espécie de relação regressiva, semelhante àquela que teve enquanto bebê com sua mãe quando esta era o único objeto de cuidado e ligação com o mundo. É a rua que agora ocupa esse lugar.

Esse processo tem importantes consequências psíquicas. O que a experiência clínica de atendimento demonstra, e esta pesquisa mais uma vez comprovou, é que em muitos casos estruturados de vida na rua o tempo passa a ser marcado pelas perdas de que falávamos acima. Muitas vezes a pessoa não sabe, ou se confunde com o tempo em que está nas ruas. Um dia pode dizer um ano, no outro, cinco anos, em outro ainda dez meses. No que ele não se confunde é com as rupturas: “quando me separei”, “quando minha mãe morreu” e assim sucessivamente.

Além da alteração da noção do tempo, Broide (1993) destaca também uma alteração da noção de espaço. Se antes o sujeito realizava seus diferentes desejos e necessidades em distintos espaços, agora todos eles se realizam na rua. A rua é depositária de seus afetos, sua sobrevivência, sua aprendizagem, sua comunidade, enfim, tudo está colocado na situação de rua.

Com relação ao tempo, outro aspecto a ser apontado é que a vida na rua leva a um inevitável imediatismo. Não é possível fazer projetos na rua. Eles se evaporam, não se consolidam. A sobrevivência é uma luta a cada hora, em uma situação de extrema violência que costuma surgir de forma imprevista a partir de colegas, do rapa, da Guarda Civil Metropolitana, da Polícia, da expulsão do albergue. Essa situação de extremo desamparo e violência só pode ser suportada com o anestésico do álcool e da droga, o que agrava ainda mais a situação daquele que está nas ruas.

É necessário falar ainda de outra situação que atinge as pessoas nesse outro mundo. Há determinadas situações em que essas diferentes e radicais rupturas são rememoradas, mobilizadas. Geralmente são diante de um fato novo, de uma exigência nova ou de algo daquele mundo antigo, que está do outro lado da fronteira que irrompe do lado de cá. Pode ser uma notícia da família, ou algo que o remeteu a uma situação de ruptura. É nesse momento que ocorre um fato que ainda não é levado em devida consideração no trabalho com a Pop Rua: é quando “bate a nave”. Esse é o momento em que, muitas vezes, todo o trabalho que foi até então realizado se desfaz e o sujeito volta a sentir-se em frangalhos, destruído por todas as rupturas.

Com todas essas características de vida, a rua torna-se o que denominamos uma instituição total, e tal como uma prisão ou manicômio o sujeito fica ali capturado, aprisionado. Como sairá das ruas se ali agora se encontra tudo aquilo que para ele importa? Ao sair da rua, o sujeito mais uma vez encontra-se no profundo desamparo que encontrou no momento mais grave em que se concentraram todas as suas rupturas. Ficou sem nada e por isso foi para a rua. Agora, quando sai da rua, mais uma vez fica sem nada. Tudo aquilo que havia construído com um enorme esforço se esvai. É o duplo exílio. Um quando foi para a rua, outro quando sai desta e tem que deixar novamente tudo o que ali construiu. Fica à deriva tal qual o barco dos imigrantes clandestinos no Mar Mediterrâneo, ou, como diria Guimarães Rosa, na terceira margem do rio.

3.1 Capacitação das equipes de trabalho

Identificou-se, durante a pesquisa, a necessidade de capacitação das equipes de trabalho acerca do que é o “mundo da rua” através de conceitos que a pesquisa demonstrou serem relevantes para a formulação de programas, projetos e atendimento direto. A seguir, sugerimos temas específicos, porém não únicos, para essa formação que, na nossa visão, deve abranger todas as equipes em seus mais diferentes níveis, do operacional ou gestor:

1.     O impacto das consequências psíquicas das rupturas e da vida no mundo da rua e de como ambos se apresentam na relação cotidiana de trabalho, ou seja, na transferência. A compreensão do que é o “mundo da rua” com suas relações, diferentes sujeitos e grupos e de como se estrutura e se movimenta a fronteira entre os dois mundos é essencial para a qualificação e mudança da relação entre as equipes técnicas e a Pop Rua.

2.     A compreensão do conceito de hospitalidade, que aborda como se recebe e o que acontece com alguém que chega “de outro mundo”, de outra cultura, em um território estrangeiro. Essa é a sensação que a Pop Rua tem ao chegar aos equipamentos de acolhida. Quando isso não é entendido e abordado criam-se inúmeras situações e conflitos que perpassam as relações entre a população atendida e as equipes.

3.     A compreensão do conceito de território e da geografia urbana que nos permite compreender as diferentes formas de relações que se dão e constituem o espaço da cidade.

4.  Faz parte e é essencial ainda, para capacitação, o cuidado ao cuidador, que deve ser realizado através da supervisão das equipes de trabalho. A construção de dispositivos adequados para a discussão de casos torna-se um espaço de profunda formação e reflexão sobre o trabalho de atendimento. A supervisão é o dispositivo que mais cuida do cuidador na medida em que abre um verdadeiro diálogo sobre suas dificuldades cotidianas no campo.

3.2 A constituição de dispositivos de acolhimento aos momentos de crise

Em função dos dados apresentados até o momento fica claro que a crise, ou quando “bate a nave”, é um dos momentos mais complicados do trabalho com a população em situação de crise. Geralmente, toda ou grande parte do trabalho se perde, fazendo com que o sujeito retorne a um momento de profunda dor e autodestruição em função de como se conecta com suas diferentes rupturas no momento da crise. A consequência se dá nas duas pontas: tanto no sujeito que cai mais uma vez, quanto na equipe que o atende, que vive uma intensa frustração.

“Esse é o momento de uma ação complexa que exige que a equipe vá em busca do sujeito, aguente sua crise e tolere escutar a sua mais profunda angústia, que muitas vezes se transforma num mergulho no álcool, nas drogas e em ações fortemente destrutivas.”

Esse é um dos problemas mais críticos do trabalho com a Pop Rua. Em função disso, propomos a criação de um ou mais grupos de técnicos especializados em intervir nos momentos de crise, quando “bate a nave”. Esse é o momento de uma ação complexa que exige que a equipe vá em busca do sujeito, aguente sua crise e tolere escutar a sua mais profunda angústia, que muitas vezes se transforma num mergulho no álcool, nas drogas e em ações fortemente destrutivas. Essa equipe, em nosso entendimento, deve ser formada por técnicos experientes, estudiosos e com um forte desejo pelo seu trabalho de resgate da vida. Esse grupo deve ter uma atenção especial tanto no que se refere à supervisão como à formação teórica.

3.3 A questão do trabalho

A mudança da noção de espaço e tempo e o conceito da rua enquanto instituição total são fundamentais para entender a dificuldade da Pop Rua com o trabalho formal, que muitas vezes é impossível de ser recuperado. Esse se torna inviável para muitos na medida em que teriam que reverter o processo que explicamos acima de forma muito rápida. Esse é o motivo do constante fracasso das políticas de emprego para a Pop Rua.

Assim, é necessário que o trabalho seja pensado fora dos moldes do mercado formal. Um bom exemplo disso é o grupo de pesquisadores sociais, que demonstrou um alto grau de compreensão de sua tarefa e absorveu um profundo saber sobre pesquisa qualitativa, o que lhes permitiu desvelar situações complexas do trabalho de campo. Eles podem, através de outra forma de organização e gestão – como a operada pela Economia Solidária – realizar pesquisas em outras situações de grave exclusão social, como ouvidores de direitos humanos, ou de outras situações críticas vividas nas ruas da cidade.

É nesse sentido que devem ser buscadas alternativas, que de alguma maneira contemplem o ciclo de vida que apontamos. Essas alternativas podem ser individuais e coletivas e devem estar sustentadas em um importante trabalho de elaboração realizado por equipes técnicas com preparação adequada.

Sugerimos aqui também a expansão da metodologia de formação de pesquisadores sociais para outros setores da Prefeitura, a fim de que se criem grupos de trabalho com as mesmas características para o mapeamento de situações sociais críticas. É importante também a articulação com a SENAES (Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego), com o Centro Público de Direitos Humanos e Economia Solidária e a Incubadora Pública de Empreendimentos Econômicos Solidários para identificar quais são os empreendimentos solidários com potencial verdadeiramente orgânico a população em situação de rua, como: lavanderias, foodtrucks (comida da rua), montadores de palco, eventos culturais e outros.  É fundamental que a situação laboral seja acompanhada com muito cuidado e competência por equipes preparadas para a tarefa.

Quanto ao trabalho ilegal, faz-se necessário ampliar a exigência e monitoramento por parte da Prefeitura na comprovação de trabalho legal quando da contratação dos serviços diretos e das empresas terceirizadas que utilizam da mão–de-obra de moradores em situação de rua.

3.4 A questão do assistencialismo

O assistencialismo tem consequências gravíssimas. Enquanto o sujeito está em situação de rua ele tem, bem ou mal, uma assistência que oferece alimentação, moradia e uma mínima atenção. Mas quando o trabalho assistencial fica focado no presente, ele impede o futuro. É importante ressaltar, no entanto, que sem uma sustentação psíquica, quem está na situação de rua muitas vezes não consegue usufruir de tais programas. A experiência de construir a autonomia mobiliza o sujeito como um todo e o remete a todas suas perdas. Assim, propomos que seja construída outra modalidade de relação entre Estado, as equipes técnicas e a Pop Rua, onde possa ser escutado quem é esse sujeito e estabelecer um diálogo de mútuos compromissos que constituam um projeto de vida individual e coletivo articulado com o conceito de ancoragens. É necessário, também, criar um modelo de avaliação dos equipamentos em que tanto os usuários quanto os técnicos possam ser ouvidos para promover o desenvolvimento constante dos projetos e programas, fortalecendo-se a estratégia das assembleias já existentes e submetendo suas discussões e resultados ao monitoramento pelo poder público para o aprimoramento.

“Enquanto o sujeito está em situação de rua ele tem, bem ou mal, uma assistência que oferece alimentação, moradia e uma mínima atenção. Mas quando o trabalho assistencial fica focado no presente, ele impede o futuro. (…) A experiência de construir a autonomia mobiliza o sujeito como um todo e o remete a todas suas perdas.”

Outro aspecto a ser ressaltado no que se refere ao assistencialismo é que todo o trabalho desenvolvido pelos equipamentos de atendimento esteja voltado para que a Pop Rua tenha o que é denominado de “autonomia”, ou seja, que se reintegre à família, como já foi dito, ou então, que seja capaz de alugar um quarto ou algo semelhante. Ocorre que, quando o sujeito está prestes a sair do circuito da assistência, ele se depara com a volta ao seu estado de total desamparo. Se ele sai do sistema, não tem mais uma equipe que o escute, garantia de onde dormir, alimento assegurado, a proximidade dos colegas e amigos de rua e de abrigo. Além disso, ele sabe que pode ser demitido a qualquer momento na medida em que, muitas vezes, está despreparado física e psiquicamente para o mercado formal de trabalho. Ocorre então que, ao perceber o abismo do desamparo, o sujeito regride e, com razão, rejeita a autonomia colocada dessa forma. Com isso forma-se uma armadilha, pois aquele que está em situação de rua e o sistema assistencial ficam amarrados um ao outro, sem saída.

Diante disso é necessário entender a crise real que se dá na tentativa de desligamento. É imprescindível um investimento no trabalho de construção de autonomias mais consistentes e que acompanhem e sustentem todo o processo da construção da vida fora ou dentro do sistema de assistência, seja em uma moradia própria, coletiva, nas ruas ou em um abrigo.

3.5 A questão da moradia

Os dados da pesquisa confirmam uma vez mais que a questão da moradia para a Pop Rua é de grande complexidade. Inicialmente, é importante colocar mais uma vez que essa população é diversificada e, como tal, demonstra diferentes desejos. Temos os que preferem dormir na rua, pois não suportam os equipamentos da prefeitura, os que estão na rua enquanto trabalhadores e utilizam os equipamentos municipais, os que estão em malocas e até os que vivem em buracos das pontes das Marginais do Tietê e, talvez, do Pinheiros.

A moradia faz parte do direito à cidade, e o que pudemos entender de fundamental é que ela esteja dentro de uma centralidade urbana que permita o acesso aos diferentes serviços, como transporte, saúde, cultura e lazer. Outro aspecto ainda essencial no que se refere à Pop Rua é que a moradia deve estar onde o dinheiro circula, tanto em espécie quanto na forma de doações que provêm dos grupos e situações já citados, como também dos comerciantes locais, em especial no que se refere à comida e às necessidades básicas. Por outro lado, os preços dos terrenos nas áreas centrais são altos, e existem poucas áreas livres e desimpedidas juridicamente.

Há ainda a questão comunitária, que é outra importante contradição. Por um lado, os grandes espaços tendem a ter problemas de convivência comunitária, o que dificulta sobremaneira a construção de projetos de fato inclusivos, e, como dissemos há pouco, são facilmente dominados pelo crime organizado. Por outro, a Pop Rua se organiza em comunidades que têm um caráter afetivo e de sobrevivência material, e é essa comunidade que geralmente traz as novas ancoragens que permitem a vida psíquica e material na rua.

É importante a realização de um debate profundo com as forças vivas do Brasil e do exterior que tenham desenvolvido experiências inovadoras aqui e em outras cidades do mundo. Apontamos, ainda, para a necessidade de articular os diferentes atores e projetos possíveis, pensando em como, no curto, médio e longo prazo, o tema da moradia para a Pop Rua possa ser pensada e articulada na cidade com os diferentes setores da política pública e das forças privadas que queiram aderir ao projeto.

3.6 A questão LGBTQIA+ e a interface com a rua

A rua tem sido o destino de muitas pessoas do grupo LGBTQIA+. É um grupo que sofre um forte processo de exclusão social e de preconceito. No caso das travestis, na maior parte das vezes estas são forçadas a se prostituir para sobreviver e efetivar a transformação de seu corpo. Encontramos casos muito graves de travestis, já em seu momento de decadência, vivendo em buracos nas ruas e outras situações extremamente críticas. Nossas sugestões ao Comitê Pop rua é que este invista na criação de ações que propiciem a agilização nos processos de mudança de nome e na construção de banheiros da diversidade nos equipamentos da Prefeitura. É necessária, também, a capacitação profissional nos equipamentos para o atendimento da população LGBTQIA+, que tem necessidades específicas. Propomos ainda a criação de campanhas que previnam a reprodução do preconceito e da exclusão (incluindo orientação ao uso dos banheiros quando há presença da “diversidade”), tanto dentro quanto fora dos equipamentos socioassistenciais. 

3.7 Articulação das políticas públicas

Ao longo da pesquisa foi possível perceber uma grande dificuldade de articulação dentro do governo e nas secretarias que participam do Comitê, tanto através das falas da população de rua quanto das dos gestores e trabalhadores. É fundamental que o Comitê Pop Rua envolva e comprometa os parceiros de forma continuada e efetiva. O desafio de construção e fortalecimento de uma rede interna vigorosa é fundamental na construção das interfaces para a qualidade do trabalho e construção da política. Ainda no âmbito interno do Comitê, é importante o aprofundamento da articulação entre os diferentes movimentos organizados de pessoas em situação de rua e a articulação das outras secretarias de forma não burocrática, apenas marcando a presença no Comitê, sem condições de disparar as ações debatidas relativas a seu âmbito de atuação. Ou seja, é necessário que a participação das secretarias no Comitê tenha voz em suas respectivas áreas de atuação.

“Ainda no âmbito interno do Comitê, é importante o aprofundamento da articulação entre os diferentes movimentos organizados de pessoas em situação de rua e a articulação das outras secretarias de forma não burocrática, apenas marcando a presença no Comitê, sem condições de disparar as ações debatidas relativas a seu âmbito de atuação. Ou seja, é necessário que a participação das secretarias no Comitê tenha voz em suas respectivas áreas de atuação.”

Essa articulação também é necessária dentro da própria SMDHC, através do engajamento das ações com as diferentes coordenadorias que têm interface com a Pop Rua, no caso: LGBTQIA+, Crianças e Adolescentes, Direito à Cidade, Educação em Direitos Humanos, Migrantes, Idosos, Trabalho Decente e Políticas sobre Drogas, Juventude, Mulheres, Igualdade Racial.

3.8 Fóruns com os diferentes grupos que realizam as doações para população em situação de rua

A pesquisa identificou inúmeros grupos religiosos, de ONGs, de amigos que fazem a distribuição de alimentos, roupas, brinquedos, cobertores e objetos de toda a ordem no centro da cidade, na região da Sé. São eles que atraem um grande número de pessoas em situação de vulnerabilidade social, que não são necessariamente a população de rua clássica. O conhecimento e a articulação desses diferentes grupos e seus objetivos e metodologias de trabalho podem contribuir para que essas ações espontaneistas se transformem em políticas mais robustas mediante a articulação com o poder público. Para tanto, seria necessário o mapeamento dessas iniciativas, bem como contatos em profundidade entre esses grupos e o poder público. A partir daí, é possível criar seminários, em busca de soluções conjuntas para problemas comuns, cursos e supervisões técnicas que contribuam para o aprimoramento dos trabalhos realizados por esses diferentes grupos.

3.9 Considerações finais

Pudemos observar que o perfil da população em situação de rua na cidade de São Paulo tem tido importantes alterações. Como já dissemos, agora sobrevivem nas ruas também imigrantes, pessoas e famílias que habitam as favelas e buscam alimentos e roupas doadas à Pop Rua durante a noite na cidade, moradores de ocupações, imigrantes e cada vez um número maior de egressos do sistema penitenciário. Queremos apontar aqui que a presença marcante de egressos do sistema penitenciário (mais de 40%) tem alterado substancialmente as relações nas ruas e nos espaços de atendimento. O código de ética das prisões vem dominando cada vez mais as relações da rua e nos diferentes acolhimentos da Assistência. As equipes técnicas não estão preparadas para esta outra ética que trata de controlar os equipamentos como se estes fossem o sistema carcerário. A ausência de políticas públicas em favor do egresso tem um impacto muito maior do que parece na vida das ruas da cidade, nos equipamentos da Assistência Social e nas políticas públicas em geral.

O reconhecimento desta mudança nas ruas com a existência dessa população que se encontra no que estamos denominando de “faixa porosa” (que não são considerados Pop Rua, mas vivem a mesma vulnerabilidade) traria ganhos inegáveis a toda política pública. Primeiro, porque se reconhece aquilo que existe. Segundo, porque se faz necessário que sejam realizados diferentes projetos e programas para os distintos grupos que vêm surgindo nas ruas.

 É necessária uma discussão muito aprofundada sobre o tema que examine a necessidade de alteração de alguns critérios de contagem do Censo Pop Rua, que terão implicação sobre o número da população em situação de rua.

Ainda na esteira do reconhecimento dessa faixa de população, é este que permitirá uma maior articulação da política pública com a Habitação, com a Saúde, com a Coordenadoria dos Imigrantes na SMDHC e assim por diante.

Por fim, ainda no tocante a esse aspecto, pensamos ser de fundamental importância que a política pública contemple tanto os novos grupos presentes na vida das ruas da cidade, como os já existentes, no sentido de uma política que dê conta da verdadeira diversidade da Pop Rua. 


1– O texto integral da pesquisa Social Participativa “Construção de Políticas Públicas a partir de um Novo Olhar sobre a Vida nas Ruas da Cidade de São Paulo” foi publicado no livro População de Rua Pesquisa Social Participativa (Coordenadores Emilia Estivalet Broide e Jorge Broide e “Censo, perfil Demográfico e Condições de Vida na Cidade de São Paulo” (Coordenadora Silvia Maria Schor) na Coleção Práxis Psicanalítica da Juruá Editora, Curitiba, 2018. Um resumo do texto foi publicado também na Revista Brasileira de Psicanálise, órgão Oficial da Federação Brasileira de Psicanálise, Vol. 53, n3, 2019. O texto aqui publicado é um outro resumo da mesma pesquisa.
2– Comitê de Controle Social formado por representantes da pop rua, entidades que trabalham na área, e representantes de diferentes secretarias municipais com interface com a pop rua. O Comitê é alocado na Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. Metade de seus membros são da Sociedade Civil e metade representam as diferentes secretarias municipais.
3– Em 20 de novembro de 2015 foi compartilhado na página do Facebook “Pesquisa Pop Rua SP” um post da página SP Invisível: https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=1215098011840607&id=1065909676759442 (acessado em 29/10/2017). Esta forma de trabalho jornalístico foi objeto de debate entre os pesquisadores sociais com um integrante do SP Invisível no grupo realizado com os Jornalistas do Grupo Ponte.
4– Esta sugestão faz parte das nossas propostas presentes neste relatório para a construção do Plano Municipal para Pop Rua.


Referências

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Emilia Estivalet Broide é Psicanalista, Mestre em Saúde Pública pela USP, doutora em Psicologia Social pela PUCSP, pós-doutoranda em Psicologia Clínica USP onde integra o Laboratório Psicanálise, Sociedade e Política. Trabalha no consultório particular e em consultorias e assessorias na área da saúde, educação, assistência social e direitos humanos. Autora de livros e artigos em psicanálise.

Jorge Broide é Psicanalista, analista institucional, professor do curso de psicologia da PUC/SP. Doutor em Psicologia Social pela PUC/SP. Coordenador do Curso de Especialização “Psicanálise nas Situações Sociais Críticas” na Educação Continuada da PUC/SP, Professor convidado do Curso de Pós-graduação em Psicologia Social da USP. Com livros e artigos editados no Brasil, Argentina e Portugal. Trabalha com população em situação de rua há 46 anos.

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