Editorial

As questões de gênero tem influencia significativa nas esferas de nossa vida em sociedade, inclusive desempenhando um papel crucial em como se estabelecem as relações nos âmbitos da saúde e no uso de substâncias. Enquanto as pesquisas e políticas públicas tradicionalmente se concentraram em uma visão binária e cisnormativa, é imperativo reconhecer e abordar as necessidades específicas de saúde de das diversas identidades construídas. Essa nova edição da Revista Quimera, pretende abordar esse tema que inclue a variedade de apresentações da sexualidade humana.

Para pessoas transgêneras, as barreiras ao acesso a cuidados de saúde de qualidade são ainda mais pronunciadas. A discriminação, a marginalização e a falta de conhecimento entre profissionais de saúde sobre as necessidades específicas das pessoas transgêneras contribuem para uma maior vulnerabilidade ao uso de substâncias. Além disso, a auto-medicação com substâncias pode ser uma forma de lidar com a disforia de gênero e o estresse de minorias. Visando esse contexto, Julia Bueno nos traz uma grande reflexão, a partir de ideias de bell hooks, sobre o cuidado e o amor a pessoas trans, incluindo o contexto da redução de danos.

Os homens cisgêneros homossexuais também frequentemente enfrentam barreiras específicas no cuidado ao seu uso de substâncias. Fatores culturais e sociais, desde o estigma e a marginalização da sua vida sexual, além do preconceito com algumas práticas, podem levar à resistência em buscar ajuda profissional. Em uma população em que há uma maior prevalência de uso de substâncias isso é uma combinação trágica. Joice Lanne traz a experiência do serviço especifico para a comunidade LGBTQIAPN+ do Instituto Perdizes do Hospital das Clinicas de São Paulo, que inclue grupos para pessoas trans e para homens com problemas assoicados a prática do CHEM SEX.

Mais estudado é o caso das mulheres cisgêneras. Elas apresentam desafios únicos em relação ao uso de substâncias, muitas vezes influenciados por questões de gênero e papéis sociais. Estudos indicam que mulheres podem recorrer ao uso de substâncias como forma de lidar com trauma, abuso ou violência doméstica, problemas que muitas vezes são subestimados ou negligenciados no tratamento. Além disso, as mulheres enfrentam um estigma social maior ao buscar ajuda para o uso de substâncias, agravado por expectativas sociais de comportamento e responsabilidades familiares.

EM um momento de ataque aos direitos dos usuários de drogas, com a PEC 45/2023 que visa, na contramão das tendências munidais, criminalizar qualquer porte ou uso de drogas ilícitas e também aos direitos das mulehres, com PL 1904/2024, que propõe punir abortos com penas mais pesadas do as propostas para casos de estupro, sustentar esse debate é fundamental.

Celi Cavallari nos traz um texto rico, discutindo visões do feminismo sobre o uso de drogas por mulheres e a importância dos enfrentamentos as políticas públicas nefastas. Já Joana Marcyk, Silvia Brasilaino e Patrícia Hochgraf, representando a equipe do Programa da Mulher Dependente Química (PROMUD) do Instituto de Psiquiatria da USP, debatem as especificidades do cuidado a mulheres idosas.

Nessa edição também trazemos a segunda parte da entrevista de Elisaldo Carlini realizado por Denis Petuco.

Boa Leitura!

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